A Coroa de Espinhos e o Trono do Amor: Cristo Rei e o Fim da História
A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, não é apenas mais uma festa no calendário. É o grandioso final, o fecho do Ano Litúrgico da Igreja Católica, um ponto de exclamação que nos prepara para recomeçar o ciclo com o Advento.
O seu propósito é claro e poderoso: proclamar que Jesus Cristo é o Senhor da História e da Criação, o Alfa e o Ómega, o centro de todo o universo.
Instituição: O Legado Profético de Pio XI
Esta Solenidade foi instituída em 1925 pelo Papa Pio XI (Achille Ratti).
O seu objetivo era profundamente profético: combater o crescente laicismo e nacionalismo secularista que se espalhava após a Primeira Guerra Mundial. Pio XI queria reafirmar que, acima de qualquer poder ou estado humano, está a soberania de Cristo sobre a sociedade.
Ele promulgou a encíclica Quas Primas, onde expressou o desejo de que o reconhecimento da realeza de Cristo trouxesse “liberdade, ordem, tranquilidade, concórdia e paz entre os homens”. O lema associado a esta festa ressoava como um grito de esperança: PAX CHRISTI IN REGNO CHRISTI (A Paz de Cristo no Reino de Cristo).
Curiosidade Histórica: A Mudança de Data
Originalmente, o Papa Pio XI fixou a celebração no último domingo de Outubro.
Com a reforma litúrgica após o Concílio Vaticano II (em 1969), a festa foi elevada a “Solenidade” e transferida para o último domingo do Tempo Comum (o 34.º domingo).
Esta mudança não foi meramente administrativa. Ao ser colocada no final do Ano Litúrgico, a Solenidade assume um profundo sentido escatológico: proclama que Cristo é a meta final da peregrinação da Igreja e de toda a humanidade, apontando diretamente para a Sua Segunda Vinda (Parusia).
O Significado Invertido da Realeza de Jesus
Se o nosso mundo associa realeza a luxo, domínio, armas e riqueza, a realeza de Jesus subverte tudo isso.
A cor litúrgica utilizada nesta Solenidade é o Branco ou Dourado — símbolos de glória e alegria triunfante — mas o Evangelho convida-nos a olhar para a realeza manifestada na Cruz.
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Reino de Serviço: O Reino de Jesus “não é deste mundo”. É um reino de verdade, justiça, amor e paz. Ele testemunha a verdade (o diálogo com Pilatos é central) e governa através do serviço e da humildade.
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O Rei Crucificado: Jesus manifesta a Sua realeza plenamente no momento da Paixão, coroado de espinhos e humilhado. O seu verdadeiro poder não é tirar vidas, mas sim entregar a Sua própria vida pela salvação de todos. Ele reina a partir da Cruz.
Palavras dos Papas
Vários Papas sublinharam a centralidade de Cristo-Rei:
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São João Paulo II: Na sua primeira encíclica (Redemptor Hominis, 1979), afirmou que Jesus Cristo é o “centro do Cosmos e da História”.
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Papa Francisco: O Papa Francisco recorda que a vida da criação não avança ao acaso, mas dirige-se para a manifestação definitiva de Cristo. “O seu [de Jesus] é o reino do amor,” e o Seu poder baseia-se na Sua palavra verdadeira que “transforma o mundo.”
Como Viver a Festa
A Solenidade de Cristo Rei não é apenas um reconhecimento de que Jesus é Rei do Universo; é um convite a fazê-l’O Rei da nossa vida.
É o momento ideal para:
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Avaliação: Olhar para trás e refletir sobre como vivemos a ética do Reino (verdade, justiça, amor) durante o Tempo Comum que agora termina.
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Compromisso: Reafirmar que as nossas escolhas, ambições e prioridades estão subordinadas ao Reino de Cristo, e não aos “reinos” temporais do poder ou do dinheiro.
Ao celebrarmos Cristo Rei, somos chamados a ser Seus súbditos, espalhando a PAZ (o PAX do lema) através do serviço humilde e da verdade, na expectativa alegre da Sua glória final.
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