Os Reis Magos: Entre a História Bíblica e a Riqueza da Tradição
Quem eram estes viajantes, o que representam e porque são essenciais no nosso Presépio?
Quando montamos o presépio, há figuras que guardamos para o fim. Estão lá longe, a caminhar sobre o musgo ou a areia, aproximando-se lentamente da gruta: os Reis Magos. Mas, afinal, o que sabemos realmente sobre eles? Seriam reis? Eram três?
A imagem que temos deles hoje é uma mistura fascinante entre o relato sóbrio do Evangelho e séculos de imaginação e devoção popular. Neste artigo, vamos “desembrulhar” este mistério de Natal.
1. O que diz a Bíblia (o alicerce da fé)
A única fonte bíblica sobre estes visitantes está no Evangelho de São Mateus (Mt 2, 1-12). Curiosamente, o texto é muito mais simples do que imaginamos:
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Não diz que eram reis: O texto original chama-lhes magoi, um termo usado para sábios, estudiosos das estrelas ou sacerdotes da antiga Pérsia.
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Não diz que eram três: O número foi deduzido pela tradição por serem três os presentes oferecidos.
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Não diz os nomes: A Bíblia não os nomeia.
Historicamente, a grande lição é que eles eram pagãos, estrangeiros. A sua chegada significa que Jesus não veio apenas para um grupo, mas para toda a humanidade.
2. A Riqueza da Tradição Popular (o colorido da festa)
Se a Bíblia é sóbria, a tradição cristã tratou de preencher as lacunas com detalhes riquíssimos, transformando os “sábios” em “reis” para cumprir antigas profecias (como o Salmo 72).
Com o passar dos séculos, a imaginação popular e a arte deram-lhes nomes, rostos e origens, tornando-os representantes de todo o mundo conhecido naquela época, como podemos ver em muitas ilustrações catequéticas:
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Melchior (ou Belchior): A tradição descreve-o frequentemente como o mais velho, de barbas brancas, representando a Europa. O seu nome (de origem hebraica) significaria “Rei da Luz”. Imagina-se que viajou num camelo e foi ele quem trouxe o Ouro, símbolo da natureza real de Jesus.
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Gaspar: Representado geralmente como um homem de idade madura e barba castanha, simbolizando a Ásia. O seu nome (de origem persa) significaria “Administrador do Tesouro”. Terá chegado num cavalo e ofereceu o Incenso, simbolizando o louvor, glória e poder divinos.
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Baltasar: Frequentemente retratado como jovem e de pele morena, representando a África. O seu nome (de origem síria) significaria “Deus protege o Rei”. O folclore por vezes coloca-o sobre um elefante. Foi ele quem trouxe a Mirra, que simboliza a natureza humana e mortal de Cristo.
Embora estes detalhes (os nomes, as montadas, as origens geográficas exatas) não estejam na Escritura, eles são belíssimos porque reforçam a verdade teológica de que povos de todas as raças, idades e culturas são chamados a adorar o Menino Deus.
3. Os Presentes: O Coração da Mensagem
A autenticidade mais profunda da visita reside na mensagem que os presentes carregam. Eles não são meras prendas de aniversário, são confissões de fé:
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Ouro: O presente para um Rei. Reconhecem que aquele bebé pobre tem uma “natureza real”.
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Incenso: O presente para um Deus. O fumo que sobe aos céus representa o louvor e o reconhecimento do poder divino daquele Menino.
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Mirra: O presente para um Homem que há de sofrer. Era uma resina usada para embalsamar, profetizando que aquele Deus assumiu verdadeiramente a “natureza humana”, incluindo a mortalidade, para nos salvar.
4. O Significado para nós hoje: A Epifania
A festa dos Reis Magos chama-se “Epifania”, que significa “manifestação”. É o momento em que Deus se mostra ao mundo inteiro, para além das fronteiras de Israel.
Para a nossa paróquia e para cada um de nós, os Magos são o modelo do caminho de fé. Eles ensinam-nos a estar atentos aos sinais (olhar para o alto e não apenas para o nosso umbigo), a ter coragem de sair do conforto e, sobretudo, a adorar.
Que neste Natal, tal como os Magos — sejam eles sábios persas ou reis lendários — saibamos oferecer a Jesus o melhor que temos: o ouro do nosso amor, o incenso da nossa oração e a mirra dos nossos sacrifícios diários.
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