O Voto de Paz de Portugal: A História do Santuário Nacional de Cristo Rei
O Santuário Nacional de Cristo Rei, em Almada, ergue-se imponente sobre o Tejo, não apenas como um farol de fé, mas como um monumento de gratidão que conta a história de um voto solene feito por uma nação.
Embora muitas vezes associado simplesmente à vista panorâmica de Lisboa, o seu significado é profundamente teológico e histórico, ligado à soberania de Jesus Cristo sobre a sociedade.
1. A Inspiração e o Voto Solene
A história começa em 1934, quando o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, visitou o Brasil e se encantou com a estátua do Cristo Redentor no Corcovado, no Rio de Janeiro. Nasceu ali o desejo de erguer um monumento semelhante em Portugal.
O Grande Motor: A Segunda Guerra Mundial
A ideia ganhou urgência com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O Episcopado Português reuniu-se em Fátima, a 20 de Abril de 1940, e fez um voto histórico a Cristo Rei:
“Se Portugal fosse poupado dos horrores da Guerra, erguer-se-ia sobre Lisboa um Monumento ao Sagrado Coração de Jesus.”
O facto de Portugal ter conseguido manter-se à margem do conflito foi entendido como um sinal singular da Divina Providência e da resposta a esta súplica nacional. O Cardeal Cerejeira, na inauguração, resumiu a missão do monumento: “Este será sempre um sinal de Gratidão Nacional pelo dom da Paz.”
2. A Construção e a “Campanha das Pedrinhas”
A promessa só pôde ser cumprida após o fim da Guerra. A primeira pedra foi lançada em 1949, e o Santuário levou dez anos a ser erigido.
Curiosidades da Construção:
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Financiamento Popular: A angariação de fundos envolveu todo o país. Uma das campanhas mais tocantes foi a “Campanha das Pedras Pequeninas”. As crianças portuguesas eram encorajadas a guardar as moedas que lhes eram dadas e a oferecê-las no Presépio das paróquias, ajudando, assim, a construir o monumento.
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Feito Artístico: A estátua de Cristo (28 metros de altura) foi esculpida à mão pelo escultor Francisco Franco de Sousa diretamente na estrutura do pedestal (82 metros), a mais de cem metros do chão, utilizando cerca de 40 mil toneladas de betão.
3. A Ligação com a Solenidade do Cristo Rei
Embora o Santuário seja dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e não à Solenidade Litúrgica em termos de data, o seu conceito está intrinsecamente ligado à festa instituída pelo Papa Pio XI.
O Santuário materializa o lema central da Solenidade: PAX CHRISTI IN REGNO CHRISTI (A Paz de Cristo no Reino de Cristo). O monumento é um testemunho de que a paz social e a ordem dependem da aceitação da soberania moral e espiritual de Cristo.
4. O Significado dos Braços Abertos
O Cristo Rei de Almada, com os braços amplamente abertos, não está apenas a abençoar Lisboa. É uma postura que simboliza:
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Acolhimento: Abertura para toda a humanidade, ecoando o amor incondicional do Sagrado Coração.
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Sacrifício: Uma referência implícita à Cruz, o trono de onde Jesus realmente manifesta a Sua realeza, a realeza do serviço e do amor.
5. Um Farol de Cor: A Iluminação Noturna
Quem atravessa a Ponte 25 de Abril à noite ou passeia pela frente ribeirinha de Lisboa, repara que o imponente pedestal do Santuário (o pórtico) muda frequentemente de cor. A estátua de Cristo permanece sempre iluminada a branco, mas a base comunica com a cidade.
Esta escolha de cores não é aleatória; é uma forma de o Santuário participar ativamente na vida da Igreja e da sociedade:
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Cores Litúrgicas: O pedestal ilumina-se de Roxo durante os tempos do Advento e da Quaresma (preparação e penitência), ou de Branco/Dourado em ocasiões festivas como o Natal e a Páscoa.
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Causas Sociais e de Saúde: O Santuário adere a movimentos globais de sensibilização. É comum vê-lo iluminado de Rosa (durante o “Outubro Rosa”, pela prevenção do cancro da mama) ou de Azul (pela sensibilização para a diabetes ou o autismo).
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Solidariedade: Em momentos de significado nacional ou internacional, as cores podem ser usadas para expressar luto ou solidariedade (por exemplo, com as cores de uma nação que sofre).
Esta prática transforma o monumento num farol dinâmico, um “comunicador” que reza e chama a atenção para as alegrias, esperanças e desafios do mundo que observa lá de cima.
6. Informação Chave
O Santuário foi solenemente inaugurado a 17 de Maio de 1959 (Dia de Pentecostes), com a presença de cerca de 300.000 pessoas e uma mensagem radiofónica do Papa João XXIII.
Referências:
As informações utilizadas para este artigo foram obtidas através de pesquisas gerais sobre o tema, com base nas seguintes fontes:
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Santuário de Cristo Rei (Site oficial:
cristorei.pt– Secção “A História” e notícias sobre iluminações). -
Agência ECCLESIA (Notícias e artigos sobre o voto de 1940).
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Wikipédia (Artigo “Santuário Nacional de Cristo Rei”).
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